sábado, 12 de novembro de 2011



"Agora olho para trás e percebo que andavas por aí, mas como és discreto e sossegado nunca te consegui ver, mesmo quando me vias por todo o lado.
Não sei como não desisti, mas a verdade é que nunca deixei de sonhar, nunca deixei de acreditar que a vida me podia dar o que quero e mereço e se calhar é por isso que as pessoas confiam em mim quando lhes vendo os meus sonhos em folhas cheias de histórias e de desejos.
Não me apetece desistir, deixar de acreditar, voltar atrás e ter de esquecer o que foi importante, quando tu me disseste, desta vez com palavras, que estavas igual a mim, um bocado farto da solidão povoada, de acordar e fingir que está tudo bem, que é só mais um dia para à noite mergulhares no casulo ao lado onde ninguém te via e tu não vias ninguém.
A vida ensinou-me poucas coisas e com o passar dos anos só aprendi que tudo se desaprende e tudo muda, por isso confio mais em mim do que nos outros e sei que o apego é como uma droga leve, que vai tomando conta de nós todos os dias mais um bocadinho, mas se tudo correr bem, o medo acabará por se ir embora e poderei enfim descansar mesmo durante a viagem, desde que estejas por perto, dessa forma tão sábia e subtil que só tu conheces, como um arroz malandro feito com arte e experiência por uma cozinheira dotada e humilde que nem sabe o quanto é boa.
Mais do que as palavras ditas, e tu dizes poucas e por isso é que as oiço todas, foi o teu olhar de miúdo com o brilho dos dez anos e o sorriso de 12 que me entrou no coração como uma flecha do deus voador senhor das setas doces e fiquei sem resposta, com a garganta a dar nós e laços sozinha.
Não sei quantas formas de amor existem no mundo, mas se os árabes têm 99 nomes diferentes para o mesmo deus, então os homens podem inventar infinitas formas diferentes de amar.
E eu quero inventar algumas contigo, sentada à mesa a saborear arroz malandro, a brincar às casinhas ao fim-de-semana, a passear na praia ou em qualquer lugar onde te sintas feliz.
O amor tem muitas formas e muitas cores, mas só um segredo o faz resistir à mudança dos mundos e quem sabe se tu, que tens a alma de um chefe índio que ganhou muitas guerras sem ir a batalhas, tens a chave do nosso amor guardada no peito à espera que eu a descubra e a vá buscar..."

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